quinta-feira, 1 de maio de 2025

Entre a Direita e a Esquerda: Por que insisto em não escolher um lado


 Por Jânsen Leiros Jr.

Vivemos tempos em que parece obrigatório declarar um lado. Em que, se não nos rotulamos, somos rotulados. Direita ou esquerda? Conservador ou progressista? Liberal ou estatista? Pois bem: recuso essa exigência simplista. 

Millôr Fernandes – "Dividir o mundo entre esquerda e direita é tão inteligente quanto dividir a comida entre doce e salgada."

 Max Weber – " Em tempos líquidos, nenhuma estrutura permanece firme o suficiente para sustentar verdades absolutas. A coerência exige flexibilidade, não adesão cega.”

 Rubem Alves – “Ideologias são como óculos: se não enxergarmos além deles, acabamos vendo apenas o que eles permitem.” 

Minha recusa não é omissão — é responsabilidade. Porque, ao olhar para a realidade brasileira, percebo que nenhum dos lados representa plenamente o compromisso que defendo: o de cuidar da sociedade sem sacrificar a liberdade e o desenvolvimento. E não estou só: segundo dados do próprio Senado Federal, 57% dos brasileiros afirmam não se identificar com nenhum dos polos dessa polarização[1] que tenta se impor como único modelo de cidadania.

               Se, de um lado, a direita demonstra insensibilidade ao sofrimento dos que precisam de apoio e proteção — defendendo um liberalismo muitas vezes selvagem, que ignora desigualdades históricas e reais, e que enxerga políticas públicas como meros entraves ao "livre mercado" —, do outro, a esquerda brasileira bravateia preocupação social, mas atua com interesses de poder escusos, instrumentalizando causas legítimas para seus próprios projetos de dominação e perpetuação no poder.

A direita brasileira, ao invés de defender genuinamente a liberdade e a responsabilidade individual, frequentemente se rende a um pragmatismo oportunista, utilizando o aparato estatal em benefício próprio, sem qualquer projeto consistente de desenvolvimento humano, cultural ou social. Discursa em favor da meritocracia, mas ignora as desigualdades estruturais que impedem o pleno acesso às oportunidades. Clama por ordem, mas se cala diante de injustiças flagrantes que atingem os mais vulneráveis.

Não é preciso grande esforço para ver que, enquanto a verdadeira socialdemocracia buscava construir sociedades mais prósperas e justas, equilibrando o livre mercado com sólidas políticas públicas, o que temos hoje no Brasil é uma esquerda que preferiu o caminho do aparelhamento estatal, da dependência política travestida de "cuidado social" e da demonização do setor produtivo, e uma direita que prioriza interesses de grupos econômicos sem construir uma nação mais justa e humana.

                 A socialdemocracia de verdade — a que inspirou as nações mais desenvolvidas do mundo — sempre soube que sem uma economia forte não há políticas sociais sustentáveis. E que sem liberdade, nem o Estado nem o indivíduo têm futuro. Infelizmente, no Brasil, esquerda e direita parecem preferir repetir slogans ao invés de construir soluções.

É nesse contexto que resgato uma convicção expressa em outro texto meu, intitulado Cristão — um subversivo no mundo real[1]. Nele, afirmei que ser discípulo de Jesus é viver com a consciência livre de amarras ideológicas, livre para denunciar injustiças onde quer que estejam, e para discernir, com coragem e fidelidade, as incoerências e perversões de qualquer sistema — seja de direita ou de esquerda. Não se trata de neutralidade, mas de compromisso com a verdade que liberta (João 8:32), com a justiça que não faz acepção de pessoas (Tiago 2:1-9), e com o Reino que não se encaixa nas lógicas deste mundo (Romanos 12:2).

Portanto, meu posicionamento é claro:

ü  Defendo a justiça social como valor essencial.

ü  Defendo a liberdade de expressão e de empreendimento como garantias inegociáveis.

ü  Defendo a responsabilidade fiscal e a ética pública como fundamentos de qualquer projeto de sociedade.

Se isso não cabe na polarização que nos oferecem, é porque o problema está nela — não em mim.

                Portanto, e para deixar a questão definitivamente esclarecida, recusar a polarização não é sinal de omissão, mas de maturidade cristã e intelectual. É compreender que o Reino de Deus não se submete aos impérios terrenos nem se deixa instrumentalizar por narrativas humanas. É estar disposto a andar na contramão das expectativas ideológicas, ouvindo a consciência moldada pela Palavra e respondendo ao chamado profético de ser sal e luz num mundo corrompido por interesses de poder.

Ser livre para denunciar o erro, venha ele de onde vier, é um ato de fidelidade ao Cristo que não se aliou nem ao Sinédrio nem a Roma — mas que deu a vida por todos, inclusive por aqueles que O acusaram e O traíram. Esse é o lugar de quem crê: em pé, no meio da praça, com os olhos no Alto e os pés firmes no chão.

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