Vivemos tempos em que parece obrigatório declarar um lado. Em que, se não nos rotulamos, somos rotulados. Direita ou esquerda? Conservador ou progressista? Liberal ou estatista? Pois bem: recuso essa exigência simplista.
Millôr
Fernandes – "Dividir
o mundo entre esquerda e direita é tão inteligente quanto dividir a comida
entre doce e salgada."
Max Weber – " Em tempos líquidos, nenhuma estrutura permanece firme o suficiente para sustentar verdades absolutas. A coerência exige flexibilidade, não adesão cega.”
Rubem Alves – “Ideologias são como óculos: se não enxergarmos além deles, acabamos vendo apenas o que eles permitem.”
Minha
recusa não é omissão — é responsabilidade. Porque, ao olhar para a realidade
brasileira, percebo que nenhum dos lados representa plenamente o compromisso
que defendo: o de cuidar da sociedade sem sacrificar a liberdade e o
desenvolvimento. E não estou só: segundo dados do próprio Senado Federal, 57%
dos brasileiros afirmam não se identificar com nenhum dos polos dessa
polarização[1]
que tenta se impor como único modelo de cidadania.
A
direita brasileira, ao invés de defender genuinamente a liberdade e a
responsabilidade individual, frequentemente se rende a um pragmatismo
oportunista, utilizando o aparato estatal em benefício próprio, sem qualquer
projeto consistente de desenvolvimento humano, cultural ou social. Discursa em
favor da meritocracia, mas ignora as desigualdades estruturais que impedem o
pleno acesso às oportunidades. Clama por ordem, mas se cala diante de
injustiças flagrantes que atingem os mais vulneráveis.
Não
é preciso grande esforço para ver que, enquanto a verdadeira socialdemocracia
buscava construir sociedades mais prósperas e justas, equilibrando o livre
mercado com sólidas políticas públicas, o que temos hoje no Brasil é uma
esquerda que preferiu o caminho do aparelhamento estatal, da dependência
política travestida de "cuidado social" e da demonização do setor
produtivo, e uma direita que prioriza interesses de grupos econômicos sem
construir uma nação mais justa e humana.
É nesse contexto que resgato uma convicção expressa em outro texto meu, intitulado Cristão — um subversivo no mundo real[1]. Nele, afirmei que ser discípulo de Jesus é viver com a consciência livre de amarras ideológicas, livre para denunciar injustiças onde quer que estejam, e para discernir, com coragem e fidelidade, as incoerências e perversões de qualquer sistema — seja de direita ou de esquerda. Não se trata de neutralidade, mas de compromisso com a verdade que liberta (João 8:32), com a justiça que não faz acepção de pessoas (Tiago 2:1-9), e com o Reino que não se encaixa nas lógicas deste mundo (Romanos 12:2).
Portanto,
meu posicionamento é claro:
ü Defendo
a justiça social como valor essencial.
ü Defendo
a liberdade de expressão e de empreendimento como garantias inegociáveis.
ü Defendo
a responsabilidade fiscal e a ética pública como fundamentos de qualquer projeto
de sociedade.
Se
isso não cabe na polarização que nos oferecem, é porque o problema está nela —
não em mim.
Ser livre para denunciar o erro, venha ele de onde vier, é um ato de fidelidade ao Cristo que não se aliou nem ao Sinédrio nem a Roma — mas que deu a vida por todos, inclusive por aqueles que O acusaram e O traíram. Esse é o lugar de quem crê: em pé, no meio da praça, com os olhos no Alto e os pés firmes no chão.
[1] https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2024/09/27/datasenado-revela-que-57-dos-eleitores-nao-se-consideram-nem-de-esquerda-nem-de-direita#:~:text=Uma%20pesquisa%20do%20Instituto%20DataSenado,de%20pessoas%20fora%20da%20polariza%C3%A7%C3%A3o.
[1] https://teologandoso.blogspot.com/2025/04/cristao-um-subversivo-no-mundo-real.html




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